segunda-feira, 24 de maio de 2010

Corpo e beleza em diferentes períodos históricos




Século IV a.C. - Vênus de Cnido


PADRÕES DE BELEZA NO TEMPO, por Tatiana Bonumá Matéria publicada Revista Cultura (ed. 25 de agosto de 2009) citando as influências das artes plásticas na transformação dos conceitos de belo ao longo da história.

"Se você perguntar para um grupo de 30 pessoas quem cada uma indicaria como uma ícone da beleza atual, ouvirá nomes previsíveis como Gisele Bündchen e Naomi Campbell, mas também outros mais ousados como Danielle Souza, conhecida por Mulher Samambaia. Todas elas com o aval midiático. Para a ala masculina, mesma disparidade, que flutuará de George Clooney ao cantor Latino, passando por jogadores de futebol e milionários árabes. Quando o assunto é beleza, não há unanimidade. Na construção da concepção de belo participam desde aspectos socioculturais e pessoais até questões ligadas ao religioso e financeiro, sempre permeados pelo pano de fundo histórico. Um exemplo? Verônica Stigger, crítica de arte, tem um exemplo na ponta da língua: “As argolas de bronze que as mulheres de certas tribos tailandesas colocam em torno do pescoço, deformando o ombro e fazendo com que o pescoço pareça mais longo, são belas para essas tribos, mas uma aberração para outras”. Isso só para mencionar alguns elementos racionais e concretos sobre referências estéticas. Porém, há também outras questões mais subjetivas e atemporais que participam da percepção do que é atraente. “É preciso notar que a noção de beleza é um conceito abstrato e mutável, diretamente relacionado à eterna busca da perfeição, que possibilitaria ao homem aproximar-se do transcendental”, acrescenta Heloísa Dallari, professora de arte na FAAP (Fundação Armando Alvares Penteado – SP). Por todos esses motivos, não raro coexistem em uma mesma fase padrões de beleza contraditórios e igualmente aceitos, o que torna a discussão ainda mais instigante. Esse será um dos temas discutidos na Semana da Beleza e Saúde, que acontecerá na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, em São Paulo, de 24 a 27 de agosto, com palestras de especialistas da área (confira programação completa no site da Cultura). Entretanto, pode-se dizer que, grosso modo, é possível identificar uma definição de belo predominante em cada época. Acompanhe a evolução cronológica desse conceito.


Rita Hayworth como " Gilda": padrão contemporâneo que persegue a juventude


ANTIGUIDADE

A beleza, até o século VI a.C um conceito subjetivo e abstrato, ganhou uma percepção lógica com o filósofo grego Pitágoras. Ele aplicou a matemática ao conceito de belo e preconizou que um corpo e um rosto bonito deveriam ser simétricos e proporcionais. O parâmetro serviu de referência para pintores e escultores, que passaram a perseguir esses ideais. Ao olhar uma figura bela na Antiguidade, tinha-se a impressão de ordem, harmonia e de medidas exatas. Muito comuns eram o nariz desenhado, o perfil perfeito e os cabelos ondulados. Alguns exemplos de obras: escultura de Apolo no templo de Delfo e a escultura Fauno Barberine (200 a.C).






Fauno de Barberine 200 a.C





IDADE MÉDIA


Não há preocupação com a beleza física. Ela é entendida apenas como consequência de uma boa alma e de comportamento devoto. Isso sim poderia transparecer na fisionomia, resultando em um rosto angelical, puro e cheio de piedade, ou seja, belo para a época, como explica Marcus Vinícius de Morais, mestre em História Cultural pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas -SP). “Bocas muito pequenas e lábios finos simbolizavam fragilidade e ausência de desejos carnais, por isso, eram valorizados”, comenta o cirurgião plástico Maurício de Maio. Em relação ao corpo, o bonito era o biótipo longilíneo (e não mais necessariamente proporcional), ombros estreitos e levemente caídos, seios pequenos e o ventre proeminente. Exemplos de obras: Madonna da Humildade, de Masolino, Judith e Venus, de Lucas Cranach.


Vênus Adormecida , obra de Giorgine - 1509



RENASCIMENTO


A exata medida volta à tona como ideal de beleza. Desta vez, é retomada por Leonardo da Vinci, que estuda profundamente a anatomia e a aplica em suas obras. Seu mestre inspirador foi o romano Marcos Vitrúvio, que viveu no século I a.C e elaborou a teoria do Homem Vitruviano, que demonstra a sequência desejada de proporções do corpo e do rosto humanos. A escultura David, de Michelangelo, é um exemplo deste aspecto do período. Porém, diferentemente da Antiguidade, ao observar uma obra renascentista, é impossível não notar a forte presença de realidade no retratar os corpos, em especial, os femininos. “No Renascimento, há a soma dos critérios de proporcionalidade do período clássico ao advento do naturalismo: os corpos são roliços, os ombros largos, o busto proeminente e os quadris amplos e arredondados”, comenta a professora de arte Heloísa Dallari. Nesse contexto, celulites, gordura localizada, pneuzinhos e ondulações no corpo eram retratadas mais como sinais de volúpia e nobreza, já que a ostentação alimentícia não era para todos. Ser gordo, encorpado, ter braços roliços, hoje considerados motivos de vergonha, eram indícios de status social. É possível observar esses traços nas obras Hélène Fourment como Afrodite, de Peter Paul Rubens, e As três Graças, de Rubens.




Rubens Helene Fourment - arte sexualidade



Hélène Fourment como Afrodite por Peter Paul Rubens - 1630




BARROCO E MANEIRISMO


Inquietação, subjetividade e mais espontaneidade são elementos associados ao conceito de beleza. Esses dois movimentos rompem com os parâmetros clássicos, ainda fortes no Renascimento, para propor ideias mais particulares e menos estagnadas do que é belo. “A beleza não é uma qualidade das próprias coisas; existe apenas no espírito de quem as contempla e cada um percebe uma beleza diversa”, define David Hume, filósofo e historiador escocês. Agora, para ser bonito, não basta ter proporção e simetria, é preciso também possuir graça e formosura, dois conceitos menos concretos e palpáveis, que abraçam também elementos como espiritualidade, o fantástico e as emoções. A complexidade é valorizada e há um refinamento evidente nas obras. Exemplos: Melancolia I, de Albrecht Dürer, e Retrato de Madame Récamier, de Jacques-Louis David.




Juliette_Recamier



Retrato de Madame Récamier, de Jacques-Louis David.








ROMANTISMO
Funde características aparentemente contraditórias: ingênuo e fatal, selvagem e sofisticado, harmonioso e assimétrico. A mistura desses contrapontos resulta no conceito do belo intenso e emocional, muitas vezes pendendo para o mágico, o desconhecido e o caótico. Ser bonito pode incluir também o disforme, o exótico e o mórbido. Uma mulher atraente pode ser pálida e apresentar olheiras, ter lábios carnudos e avermelhados, ostentar uma cabeleira volumosa e indomável, orgulhar-se de veias aparentes. O aspecto saudável é óbvio demais para ser admirado, excessivamente sem mistério. Há uma intrigante noção perversa na estética. Obras: Aurélia, de Rossetti, Safo, de Charles- Auguste Mengin, e Ofélia, de John Everett Millais





SafoSafo

Safo - Charles-August Mengin

Óleo 1877




MODERNISMO


A ideia do ser perfeito se dilui, se distancia das referências tão trabalhadas nos períodos anteriores. “No expressionismo e no cubismo, a figura humana pode se deformar e até mesmo desaparecer, como na abstração”, observa Veronica Stigger, escritora e crítica de arte. A estética adquire forte aspecto geométrico, pode lançar mão da descontinuidade e da fragmentação, mas sobretudo, chama atenção pela provocação de corpos e rostos instigantes, mas, ainda assim, cheios de graça. Exemplos: Les demoiselles d’Avignon, de Pablo Picasso, e A negra, de Tarsila do Amaral.





Les_Demoiselles_d'Avignon

Les demoiselles d’Avignon, de Pablo Picasso


CONTEMPORANEIDADE


A era Barbie, que persegue a juventude, a magreza e a alegria constante. “A beleza entra na ditadura da felicidade e passa a ser um instrumento para alcançá-la. É a senha para o sucesso profissional, o reconhecimento social e o entendimento amoroso”, opina Marcus Vinícius de Morais, da Unicamp. Como tudo, se transforma num objeto de consumo e pode ser adquirida com cosméticos, procedimentos estéticos ou cirurgias. A tecnologia avança no sentido de atender esta demanda social, nunca tão valorizada em nenhum outro período histórico. ©




Marilyn Monroe - arte sexualidade



Marilyn Monroe - 1950













Gisele Bündchen - 2010


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